segunda-feira, 19 de março de 2012

Fim de uma lenda: Cocalzinho.

  
Acidente em Cocal. A escalada é um esporte apaixonante. Foto: Caio Gomes.

Sabem aquelas viagens perfeitas? Então, deixa eu contar sobre uma para vocês. Porém antes, devo avisá-los que essa história começa há 7 anos atrás, quando durando o Campeonato Brasileiro de Escalada Esportiva 2005, em Belo Horizonte (MG), eu conheci uma galera fantástica de Brasília (DF). Dentre esses "rastas", estava um cara que - mesmo sem eu saber - se tornaria um grande amigo: Rafinha Passos. Ainda na concentração do campeonato - realizado na academia de escalada Das Pedras -, Rafinha me contava sobre um lugar que eu nunca havia escutado falar, mas que em breve se tornaria a maior área de escalada em boulder do país e uma das maiores do mundo. Essa área, conhecida como Cocalzinho, está localizada dentro do Parque Estadual da Serra dos Pirineus (140km de Brasília) que se encontra dividida em três municípios goianos: Cocalzinho de Goiás, Pirinópolis e Corumbá de Goiás. Desde então, passei a ter uma obrigação de conhecer esse local.
Futebolzinho que rolou no Casarão. Destaque para o artilheiro Gabriel "Messi" Bellão (de camisa azul) que marcou duas vezes na primeira partida. Foto: Caio Gomes.

Os anos se passaram e a "obrigação" virou promessa. E com o passar de mais alguns anos, essa "promessa" virou lenda. E graças à Glauce Ibraim, conhecida mundialmente como "Mozão", essa "lenda" se tornou realidade em 15 de maio de 2012. "Mozão" comprou as passagens e de última hora fui avisado. Não deu nem tempo para ficar ansioso. Sem avisar ao Rafinha, embarquei para a capital brasileira em busca dos blocos mágicos de Cocalzinho. Após uma encenação digna de um estueta da Academia, revelei a minha presença ao amigo brasiliense assim que o mesmo chegou para buscar - ainda somente - a Glauce. Hora de pegar a estrada e partir rumo ao Parque dos Pirineus. Seriam apenas 4 dias de escalada, mas eu estava motivado. Na quinta-feira (15) conhecemos o setor do Mocó, mais precisamente um novo sub-setor chamado Cinematográfico. Pude encadenar alguns boulders fáceis, porém todos cinco estrelas. Saimos de madrugada e retornamos para Brasília. Infelizmente na sexta-feira (16) a chuva não deu brecha, o que nos forçou a ficar no famoso Casarão.

O famoso "Casarão" onde passamos algumas noites durante essa viagem. Foto: Caio Gomes.
São Pedro resolveu compensar nos dias seguintes. O sábado amanheceu com sol e partimos ainda com luz para Cocalzinho. A logística inicial era resgatar os crash-pads abandonados no subsetor do Cinematográfico e partir para o famoso setor da Casa da Cobra. Porém como havíamos escalado pouco na noite anterior e conhecido pouca coisa em função da chuva que logo resolveu cair, decidimos em conjunto escalar até a noite e conhecer ainda mais um pouco do setor do Mocó. Já passava das 23h00 quando decidimos que era hora de partir para a Casa da Cobra para a minha primeira pernoite embaixo dos blocos locais. Mesmo a noite não me contive e precisei ver os boulders mais clássicos e tocar nas agarras dos meus objetivos da trip: o "Ganja Smoke" e o "Amendoim Tostado" - ambos v9. Após uma noite agradabilíssima de sono, era hora de ir ao que interessa.
 Suíte presidêncial da Casa da Cobra. Foto: Caio Gomes.

O climb começou as 10h para mim quando encadenei o Muy Expuesto, um v1 clássico do local. Devidamente aquecido e alongado era hora de tentar o "Ganja Smoke". Para a minha surpresa - que não estava conseguindo isolar o penúltimo move do boulder - na primeira entrada do início, encadenei. Momento único. Segurei com um braço o pêndulo e quis muito ficar naquela agarra. Yeah! Hora de tentar o "Amendoim Tostado". Este confesso ter achado impossível de mandar em função da minha pele que já não estava 100%. Mas não precisei de muitas tentativas para que obtivesse sucesso. Após cair indo para a última agarra do crux do boulder por volta da 3ª entrada, dei somente mais duas tentativas antes de mandá-lo (Confiram o vídeo). Pronto: missão cumprida. Infelizmente já estava se aproximando a hora de voltar para o Rio. Mas ainda sim tive tempo para conhecer o boulder que julgo ser um dos mais bonitos do Brasil, o "Regrê" v11.

Em cima da hora chegamos no Aeroporto de Brasília mas com uma vontade enorme de perder o vôo e ficar por lá para sempre. Como dizem os locais: "Cocal é o gueto!". Incrível a qualidade dos blocos e a qualidade das pessoas. Por último gostaria de agradecer algumas pessoas que fizeram essa viagem ser inesquecível: Bellão, Pedrão, Chuck, Gabiras, Fei, Thales, Zé e Lukinhas, Rodolfo, aos brothers que estavam na Casa da Cobra e o resto da galera que eu possa ter esquecido. Um obrigado especial à Glauce Ibraim que tornou esse sonho realidade e ao Rafinha por me receber de forma única, me guiar, me ceder seu tempo e carinho durante essa viagem e ao longo desses quase 8 anos de amizade. Espero voltar em breve. Obrigado galera!
Famoso setor da Casa da Cobra. Foto: Caio Gomes.